Valeu, Twitter!

Essa é, de longe, a rede social mais tóxica e, ao mesmo tempo, mais bacana que já conheci… |FOTO: XanderST

Nem dá para acreditar que já são pouco mais de 15 dias sem uma das melhores (e ao mesmo tempo, mais tóxicas) redes sociais já criadas. O Twitter (me recuso a chamar de “X“) tem sido minha favorita desde que criei uma conta lá em 2009. Porém, uma treta envolvendo seu atual dono e um quase “imperador do Brasil” com aspirações totalitárias e narcisistas impede que mais de 20 milhões de brasileiros tenham acesso à plataforma. Mas vamos chegar lá…

Comecei no Twitter postando frases pseudo filosóficas aleatórias ou versos poéticos de Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Logo, passei a comentar episódios de séries da TV (p.ex, The Walking Dead, quando no seu auge) e os jogos da Seleção Brasileira nas copas desde 2006. Com o passar do tempo, os algoritmos do site foram reformulando a forma como a gente consumia as informações na timeline e acabou por nos fechar em “bolhas”.

Isso ficou claro a partir de 2013, com os distúrbios que tomaram o país contra o Governo Federal, começando pelos protestos contra cobranças ilegais nas passagens dos transportes coletivos, migrando para mobilizações contra os desmandos e impostos absurdos nas costas (e bolsos) da população, para finalmente chegar à famigerada (e necessária) polarização política na eleição de 2014. Era cada twittada ácida!

Assim, por oito anos, meus tweets e minha TL só envolviam política, a guerra esquerda x direita, escândalos de corrupção, entre tantas coisas que já fazem parte do vocabulário do brasileiro. Foi um período acirrado, mas muito desgastante. Tanto que em 2022, em pleno ano de eleição, resolvi que já era hora de deixar esse debate em prol das melhorias que nunca chegavam ao país.

Em lugar disso, queria me envolver mais com pessoas que “falavam a minha língua” em termos teológicos, pois, cristão que sou, queria tratar sobre coisas da igreja, do Evangelho, da música sacra, entre outros assuntos. Queria conhecer pessoas de outras tradições, como luteranos, anglicanos ou presbiterianos, pois como estou numa igreja batista e, tendo me formado em um curso livre de teologia, achei que poderia aprender mais, de forma branda, amistosa e num ambiente cristão. Ledo engano.

O que vi foram intensas brigas, discussões, xingamentos e impropérios partindo de pessoas que deveriam seguir à risca valores como respeito, honra e temperança. Mas não. Luteranos defendiam (com razão) sua tradição, sua estética litúrgica e suas práticas diárias de devoção, porém, de uma forma beligerante, ressaltando que todos que não seguiam a mesma “cartilha” não passavam de pagãos.

Presbiterianos (alguns dos mais chatos), criticavam a música, a estética “worship” (até eu critico), a liturgia dos cultos das outras igrejas que não confessam Westminster, colocando todo mundo no balaio “neopentecostal” até mesmo quem foge disso. Sem contar os debates envolvendo o “Aliancismo”, como pedobatismo, a Ceia como Sacramento (não um memorial), entre outras coisas. E tudo isso, com bastante xingamento e depreciação alheia.

E os católicos, bom… esses sempre colocando os protestantes como idiotas, ignorantes, pagãos, “idólatras” de um livro (pasmem, a Bíblia), entre outros termos. É tanta coisa que fico até entediado (e irritado) só de lembrar e ter que passar para estas linhas. Que fique claro: não estou generalizando. Encontrei lá bons católicos, bons presbiterianos, bons luteranos, ou seja: bons cristãos. Mas me deparei com muitos dos absurdos aqui citados. E note-se: TODOS OS DIAS!

Pois bem. Ficou claro que a rede é bem tóxica a níveis de Chernobyl. Mas a coisa começou a pegar fogo mesmo lá em 2022, quando Elon Musk comprou a rede social por cerca de U$ 45 bi e passou a “descaracterizá-la”, por assim dizer. Primeiro que mudou o nome, a identidade visual, a logo e tudo mais. Eu digo que passou a ser outra rede social e não mais o Twitter que a gente conhecia. Mas ainda assim, continuei a utilizá-la diariamente.

Veio então a polêmica com Alexandre de Moraes, o “Xandão”. Não vou entrar em detalhes, apenas resumir. Começou com a recusa de Musk em cumprir ordens judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF) que ele considerou ilegais. O ministro determinou a remoção de conteúdos como publicações relacionadas aos atos de 8 de janeiro e aos inquéritos do STF. Musk, por sua vez, alegava que restringir determinados conteúdos seria limitar a liberdade de expressão.

Essa disputa se intensificou com a postura de Musk, que acusou Moraes de censura e se posicionou ao lado de apoiadores de direita. A plataforma passou a descumprir as determinações do STF, o que levou Moraes a suspender a rede social no Brasil no último dia 30 de agosto. A decisão do ministro foi justificada pela “necessidade de garantir a segurança pública e a ordem democrática, diante da recusa da plataforma em colaborar com as investigações”. Mas todo mundo sabe que não é nada disso. Tem muita coisa envolvida (já ouviram falar em X Files?). Enfim…

O Twitter segue banido e não se sabe até quando. Talvez nunca volte. Para ficar ainda mais bizarro, Xandão ainda aplicou multa de R$50 mil para quem acessar a rede social por meio de VPN (roubar um mercadinho parece ser menos danoso). Devido a isso, outras redes sociais semelhantes eclodiram, como BlueSky, Threads e Mastodon. Todas “cosplayers” do Twitter e tão bizarras quanto (exceto a Mastodon! É legalzinha). Depois falo a respeito…

Agora preciso citar uma das coisas boas (na verdade, a melhor) que o Twitter me proporcionou. Foi lá que conheci minha esposa. Um tweet despretensioso meu sobre não ter companhia para o casamento de uma amiga de infância me rendeu um relacionamento que está prestes a completar 12 anos (dois só de casamento). Ou seja, o Twitter para mim é bem mais que uma simples rede social onde eu despejo minhas raivas, frustrações e indignações sobre o mundo. É um lugar onde fiz boas amizades, aprendi muita coisa legal sobre a vida e ainda encontrei o amor da minha vida.

Tinha muitas outras coisas que poderia citar aqui sobre essa rede social tão louca e, ao mesmo tempo, tão bacana. Como o fato de que, sim, havia muita fake news, discurso de ódio e crimes virtuais ocorrendo (e partindo de todos os espectros políticos). Denunciei diversas postagens, mas quase sempre a resposta que recebia da plataforma era que “não estavam ferindo os padrões da comunidade” (isso, é preciso ressaltar, antes da era Musk).

Além disso, eu não cheguei nem a 2 mil inscritos. Meus tweets não eram tão curtidos e o engajamento era quase sempre abaixo de zero. Mas eu não me importava. Era onde eu me expressava mais e gostava de comentar sobre o dia a dia. Falava “sozinho” mesmo e não estava nem aí. Mas, por hora, isso acabou.

Só posso finalizar esse texto dizendo: valeu, Twitter! Até logo (se o Xandão deixar)!

2 comentários em “Valeu, Twitter!

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  1. Muito legal o seu relato. Acredita que nunca usei, nem nunca me interessei por essa rede? Logo o ego inchado do xandão em nada afetou minha rotina. Mas gostei do que você escreveu, principalmente a parte do casamento!

    Curtido por 1 pessoa

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